Após décadas de silêncio, Estado reconhece o valor de Eunice Paiva

Após décadas de silêncio, Estado reconhece o valor de Eunice Paiva
Foto: Reprodução/X @sarahpaulson

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu, de forma póstuma, a Ordem de Rio Branco à advogada Eunice Paiva, reconhecendo sua trajetória de luta e coragem. A honraria veio como forma de homenagear quem enfrentou a dor da perda e o silêncio imposto pela ditadura militar.

O desaparecimento de Rubens Paiva

Eunice foi casada com o ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado por agentes da repressão em 1971. Ele nunca mais voltou para casa. Eunice, com apenas 42 anos, ficou sozinha com cinco filhos pequenos. Desde então, ela passou a buscar respostas sobre o paradeiro do marido.

Mesmo diante de ameaças, ela não desistiu. Ficou presa por 12 dias, mas seguiu firme. Em 1996, ela conseguiu, enfim, um atestado de óbito oficial, reconhecendo que Rubens morreu sob custódia do regime.

Uma trajetória construída na dor

Após a tragédia, Eunice voltou aos estudos. Formou-se em Direito e se especializou em direito indígena. Atuou como consultora do governo federal, da ONU e do Banco Mundial. Além disso, ela integrou a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, onde ajudou outras famílias a encontrarem respostas.

Reconhecimento que atravessa gerações

A trajetória de Eunice foi eternizada por seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, no livro “Ainda Estou Aqui”, publicado em 2015. A obra inspirou o filme homônimo, que conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional, o primeiro da história do Brasil.

No cinema, a atriz Fernanda Torres interpretou Eunice. A atuação emocionou o país e reacendeu o debate sobre a importância da memória e da verdade histórica.

Honraria que carrega significado

A homenagem à Eunice foi publicada no Diário Oficial da União, no grau de comendador da Ordem de Rio Branco. A condecoração é uma das mais altas honrarias civis do país e leva o nome do patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco.

A ordem reconhece pessoas e instituições que prestaram serviços de grande valor à nação. A entrega, mesmo que tardia, carrega um forte simbolismo político e histórico.

Um legado que não será esquecido

Eunice faleceu em 2018, aos 86 anos, após lutar contra o Mal de Alzheimer. Mas sua história continua viva — nos livros, no cinema, nas homenagens e no coração de quem acredita que o Brasil precisa enfrentar seu passado com verdade e respeito.

Sua vida mostra que o amor, a justiça e a coragem podem sobreviver mesmo em tempos sombrios.