Ministra Marina Silva abandona sessão após declarações ofensivas no Senado

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Foto – Reprodução Instagram (@marinasilvaoficial)

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deixou uma audiência no Senado nesta terça-feira após sofrer comentários ofensivos e machistas de parlamentares. O episódio ocorreu durante uma sessão da Comissão de Infraestrutura, marcada inicialmente para tratar da criação de áreas de conservação ambiental na região Norte do país.

“A ministra não merece respeito”

Logo no início da audiência, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) dirigiu-se à ministra de forma considerada desrespeitosa. Ele afirmou que faria uma separação entre a mulher Marina, que “merecia respeito”, e a ministra, que “não merecia”. Marina reagiu de imediato.

“Ou ele se retrata ou eu me retiro da sessão”, declarou, visivelmente incomodada. Como o parlamentar não se desculpou, ela se levantou e saiu do plenário.

Microfone cortado e embates repetidos

Outro momento tenso envolveu o senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da comissão. Ele cortou o microfone da ministra e a interrompeu várias vezes. Quando foi criticado, respondeu que Marina deveria “se pôr no seu lugar”. A fala provocou mais indignação.

A ministra rebateu prontamente: “O senhor quer que eu seja uma mulher submissa. Eu não sou”.

O senador tentou justificar que se referia ao cargo dela, e não ao gênero. Mesmo assim, o tom da fala foi duramente criticado por outros parlamentares presentes.

Outros episódios de desrespeito

Essa não foi a primeira vez que Marina foi alvo de ofensas no Senado. Em março, durante uma CPI, o próprio Plínio Valério chegou a insinuar violência física ao comentar que passou seis horas ouvindo a ministra “sem enforcá-la”.

Na época, Marina respondeu: “Só psicopatas brincam com a vida dos outros”.

Discussão sobre áreas protegidas e petróleo

A audiência desta terça havia sido convocada para debater a criação de unidades de conservação em uma área conhecida como Margem Equatorial, onde a Petrobras pretende explorar petróleo. Marina explicou que o processo de criação das áreas protegidas começou em 2005 e não afeta diretamente os blocos de exploração.

Segundo ela, o trabalho do Ministério do Meio Ambiente não tem o objetivo de barrar investimentos, mas de garantir a preservação dos ecossistemas. Ainda assim, senadores acusaram a ministra de dificultar o avanço de projetos econômicos.

Rodovia BR-319 também foi alvo de disputa

Outro tema polêmico foi a pavimentação da rodovia BR-319, que liga Porto Velho a Manaus. O senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou Marina e defendeu a obra, afirmando que ela não era “mais ética” do que os demais parlamentares.

A ministra respondeu que não tem sido ouvida de forma justa e que ficou 15 anos fora do governo, sem influência direta nas decisões sobre a rodovia. Ela disse que tem sido usada como bode expiatório nas discussões sobre o projeto.

Licenciamento ambiental em debate

Durante a audiência, Marina também abordou o projeto de lei que altera as regras do licenciamento ambiental no Brasil. Ela defendeu mais tempo para discussão com a sociedade civil e alertou que o texto atual pode comprometer a proteção ambiental e aumentar o desmatamento.

Senadores da base ruralista, no entanto, acusaram a ministra de atrasar o progresso do país. “A senhora terá responsabilidade se isso não avançar”, disse Aziz.

Reações e solidariedade

Após o episódio, a primeira-dama Janja da Silva usou as redes sociais para defender Marina. Ela classificou os ataques como “misóginos” e disse que a ministra é um exemplo de coragem e compromisso ambiental.

Outras ministras também se manifestaram. Márcia Lopes, da pasta das Mulheres, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, prestaram solidariedade e cobraram respeito e responsabilização dos parlamentares envolvidos.

Marina, por sua vez, reafirmou seu compromisso: “Não vou permitir que desqualifiquem meu trabalho só por eu ser mulher. Fui agredida enquanto fazia meu trabalho técnico”, disse após a sessão.