
A Polícia Federal (PF) concluiu o inquérito que investigou a existência de uma estrutura clandestina dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O relatório final, entregue nesta terça-feira (17) ao Supremo Tribunal Federal (STF), indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro, e o ex-diretor da agência, Alexandre Ramagem.
Esquema de espionagem durante o governo
A investigação apontou que o grupo utilizou recursos públicos e tecnologia de rastreamento para espionar ilegalmente autoridades, jornalistas e adversários políticos. Segundo a PF, o esquema operou por meio da ferramenta First Mile, um software capaz de identificar a localização de celulares em tempo real.
A prática teria ocorrido entre 2019 e 2023, com pico de uso em 2020, ano das eleições municipais. Ao todo, a ferramenta foi utilizada mais de 60 mil vezes nesse período.
Rede ampla de envolvidos
Além de Bolsonaro, Carlos e Ramagem, o relatório também indiciou outras 30 pessoas, incluindo membros da atual cúpula da Abin. Entre os citados estão o atual diretor-geral Luiz Fernando Corrêa e o chefe de gabinete Luiz Carlos Nobrega.
A PF identificou um possível conluio entre a gestão atual e a anterior da Abin para esconder as ações ilegais. Isso dificultou o avanço das investigações em vários momentos.
Operações revelaram a dimensão do esquema
A investigação incluiu cinco fases e contou com operações como a Última Milha, em outubro de 2023, e a Vigilância Aproximada, em janeiro de 2024. Nesta última, a PF fez buscas nos endereços de Alexandre Ramagem, suspeito de ter comandado o esquema.
O nome “Última Milha” faz referência ao software First Mile, usado para obter informações de geolocalização sem autorização judicial. A PF também apurou tentativas de obstrução das investigações por parte de alguns dos indiciados.