
Por Jair Viana
A gestão de Augusto Melo, atual presidente licenciado do Corinthians, tem sido alvo de questionamentos que, à luz dos documentos e da realidade contratual do clube, revelam mais disputas políticas internas do que reais irregularidades administrativas. A controvérsia em torno dos aditivos contratuais firmados com o Grupo RF – responsável por serviços de segurança e limpeza no clube – tornou-se palco de uma crise midiática, cuja origem parece residir menos nos documentos em si e mais no cenário de instabilidade política que acomete o Parque São Jorge.
Segundo informações oficiais fornecidas pelo próprio Grupo RF, os aditivos firmados em maio de 2025 foram motivados por ajustes econômicos decorrentes do dissídio coletivo das categorias trabalhistas envolvidas (SESVESP e SIEMACO). O reajuste de 8% nos valores contratuais visava garantir a manutenção da excelência na prestação dos serviços, que são elogiados por veículos esportivos e torcedores, notadamente no caso da Neo Química Arena – considerada a arena mais limpa do país por estudos independentes.
A narrativa de que os contratos foram feitos às escondidas não se sustenta. O Grupo RF apresentou trocas de e-mails com setores internos do clube comprovando que o Corinthians tomou ciência das alterações e confirmou que os novos pagamentos começariam em junho de 2025. A falta de assinatura do departamento jurídico nos documentos físicos não invalida os contratos, tampouco há qualquer ilegalidade comprovada em relação às datas de assinatura ou prorrogação dos vínculos.
Os aditivos também incluíram multas rescisórias – uma cláusula comum em contratos dessa natureza, e que protege o clube de quebras arbitrárias que podem gerar custos ainda maiores no médio prazo. A rescisão desses contratos pela atual diretoria interina, sem justificativas técnicas consistentes e sem análise de custo-benefício, levanta a suspeita de que interesses políticos estejam sendo colocados acima da racionalidade administrativa.
Outro ponto sensível diz respeito ao elevado número de notas fiscais canceladas – 129, totalizando R$ 6 milhões. O Grupo RF esclareceu que os cancelamentos se deram por motivos formais, ligados à necessidade de reemissão com os valores atualizados após os dissídios e ajustes solicitados pelo próprio clube. Não há qualquer evidência de fraude ou superfaturamento.
O que se vê, portanto, é uma tentativa deliberada de criar escândalos em cima de atos legítimos de gestão. A assinatura dos contratos por Augusto Melo ocorreu dentro de sua legitimidade como presidente, sem vícios de origem. A instabilidade provocada por vazamentos seletivos, quebra de sigilo contratual e falta de transparência da gestão interina apenas acirra a crise institucional do clube – uma crise que afeta atletas, funcionários e o torcedor.
Enquanto isso, permanece sem resposta a principal pergunta: por que as contas de 2023, relativas à gestão anterior, ainda não foram abertas? A seletividade na divulgação de documentos escancara a intenção de minar a imagem da gestão Augusto Melo enquanto assuntos mais espinhosos seguem intocados.