Exportações em risco: os setores brasileiros mais expostos às tarifas de Trump

Apesar da baixa dependência comercial dos EUA, tarifas de 50% podem atingir setores estratégicos como aviação, etanol, aço e construção civil

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Foto Freepik

Setores mais vulneráveis

As novas tarifas de 50% anunciadas por Donald Trump sobre produtos brasileiros reacendem o alerta entre especialistas e empresários. Embora os Estados Unidos representem apenas 12% das exportações brasileiras, setores específicos enfrentam forte dependência do mercado americano.

Um estudo do BTG Pactual destaca que cinco categorias de produtos concentram cerca de 40% das exportações para os EUA. Entre elas estão:

  • Ferro e aço semimanufaturados (72,5% vão para os EUA)
  • Aeronaves (63,2%)
  • Materiais de construção (57,5%)
  • Etanol (48,5%)
  • Madeira e derivados (43,3%)

A Embraer no foco

A Embraer (EMBR3) é um exemplo claro da vulnerabilidade. Companhias aéreas americanas estão entre os principais clientes da fabricante brasileira, que exportou cerca de US$ 2,7 bilhões em aeronaves em 2024.

Outros produtos de destaque nas exportações incluem:

  • Petróleo bruto (US$ 6 bilhões)
  • Ferro e aço (US$ 4,9 bilhões)
  • Café (US$ 1,9 bilhão)
  • Celulose (US$ 1,5 bilhão)
  • Carne bovina in natura (US$ 900 milhões)

Baixa exposição geral, impacto localizado

O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo. O comércio exterior representa uma fatia pequena do PIB, o que ajuda a conter o impacto geral das tarifas. Ainda assim, analistas do BTG alertam que setores com forte exposição ao mercado americano sentirão os efeitos de forma direta.

O governo brasileiro também enfatizou, em resposta à medida, o desequilíbrio histórico na balança comercial entre os dois países. Em 15 anos, o Brasil acumula um déficit de US$ 410 bilhões com os EUA.

A diferença de tamanho entre as economias ajuda a explicar esse desequilíbrio. Em 2024, o PIB dos EUA foi de US$ 29,2 trilhões — mais de 13 vezes o brasileiro (US$ 2,18 trilhões).

Tarifas médias e protecionismo

Embora o Brasil pratique tarifas médias mais altas que os EUA (5,8% contra 1,3%), boa parte da proteção comercial brasileira vem de barreiras não tarifárias — como exigências sanitárias e técnicas —, e não de impostos diretos.

Segundo o Goldman Sachs, se as novas tarifas forem implementadas conforme o prometido, haverá um aumento de 35,5 pontos percentuais nas tarifas efetivas sobre produtos brasileiros. Essa é a maior alta entre os países latino-americanos afetados.

Para efeito de comparação, os aumentos estimados para outros países da região seriam:

  • Chile: 26,3 pontos percentuais
  • Peru: 14,4
  • Argentina: 10,8
  • México: 9,7
  • Colômbia: 6,7
  • Equador: 5,7

Diversificação como escudo

Apesar do cenário preocupante, o Brasil conta com uma vantagem: a diversificação da sua pauta de exportações. Segundo o BTG Pactual, essa variedade de mercados e produtos ajuda a suavizar o impacto de tarifas pontuais.

O índice de cobertura BNT (coverage ratio) do Brasil é de 86,4%, superior ao dos EUA (77%) e à média mundial (72%).

Mesmo assim, a aplicação de tarifas elevadas em setores estratégicos pode comprometer empregos, competitividade e investimentos — especialmente em cadeias produtivas com alto grau de especialização.

 

Fonte: Bloomberg Línea