Família discreta por trás da Tetra Pak acumula fortuna bilionária em ações

Herdeiros da Tetra Laval possuem cerca de US$ 9 bilhões investidos em mais de 100 empresas; estrutura sigilosa opera a partir de Liechtenstein, Suíça e Singapura

Foto Divulgação internet/ Tetrapak

Uma das famílias mais discretas do mundo dos negócios, os Rausing, da Suécia, acumula uma fortuna silenciosa. Com raízes na criação da icônica Tetra Pak, o clã construiu um portfólio impressionante de ações, que hoje soma cerca de US$ 9 bilhões e se espalha por mais de 100 empresas na Europa e nos Estados Unidos. A análise é da Bloomberg, baseada em registros regulatórios.

Embora mantenham aversão à exposição pública, os Rausing deixaram rastros em operações sofisticadas. Por meio de entidades sediadas em Liechtenstein, Singapura e Suíça, controlam grandes participações em empresas globais como a International Flavors & Fragrances (IFF), com US$ 1,9 bilhão; a Linde, de gases industriais (US$ 2,4 bilhões); e a Givaudan, fabricante suíça de aromas (US$ 2,2 bilhões).

Outros investimentos incluem nomes conhecidos como Apple, Wells Fargo, e Sensient Technologies, além da empresa suíça de embalagens SIG Group. As operações são realizadas por meio de veículos como Winder Investments, Longbow Finance e Freemont Management, todos com histórico de atuação a serviço da fortuna da família.

Um império discreto e descentralizado

Boa parte da estrutura financeira dos Rausing é amparada pela Haldor Foundation, uma entidade registrada em Liechtenstein que, segundo reportagens anteriores, tem como beneficiários diretos Finn, Jorn e Kirsten Rausing — netos do fundador da Tetra Pak, Ruben Rausing.

Com registros corporativos distribuídos por três continentes, o clã demonstra um nível de sofisticação comparável aos grandes family offices globais. A Longbow Finance, por exemplo, controlava US$ 835 milhões em ações nos EUA até março deste ano. Já a Freemont, incorporada como subsidiária da Tetra Laval em maio, detinha cerca de US$ 304 milhões no mesmo período.

Os investimentos, no entanto, não se limitam a ações. Há indícios de aplicações em hedge funds, crédito privado e imóveis — setores onde a transparência é menor. Infusões frequentes de capital nas empresas singapurianas Winder mostram aportes periódicos de centenas de milhões de dólares, cuja origem permanece em sigilo.

Um legado embalado para o mundo

A trajetória dos Rausing começou no início do século XX, com Ruben Rausing, nascido em Raus, no sul da Suécia, em 1895. Após estudar na Universidade Columbia, em Nova York, e observar o crescimento dos supermercados de autosserviço, ele previu uma explosão na demanda por embalagens práticas e higiênicas. Sua aposta se concretizou com o lançamento da embalagem em formato de tetraedro, que revolucionou o mercado global de alimentos.

Décadas depois, a Tetra Pak se transformou em um império. No último ano, a empresa produziu 178 bilhões de embalagens e faturou US$ 18,5 bilhões. Apesar do volume, a Tetra Laval — holding que comanda o grupo — é uma companhia de capital fechado, o que impede a divulgação de seus lucros e da distribuição de dividendos entre os herdeiros.

O controle do negócio passou para os filhos de Ruben, e mais tarde aos netos. Desde 1995, os três irmãos figuram como principais acionistas, após a compra da parte do tio por Gad Rausing, pai dos atuais herdeiros.

Lucros variáveis, fortuna crescente

Apesar do poder financeiro, nem todos os investimentos da família foram bem-sucedidos. As ações da IFF, por exemplo, caíram 29% desde que a família revelou participação, enquanto o S&P 500 subiu 242% no mesmo período. Em contrapartida, a Givaudan rendeu 41% desde sua inclusão no portfólio, superando o índice da bolsa suíça.

Independentemente das oscilações, a fortuna dos Rausing continua a crescer — silenciosa, estratégica e sob rígido controle familiar.

Fonte: Bloomberg Línea