
Pressão sobre Trump cresce após ameaças de tarifas
Na quinta-feira (24), onze senadores do Partido Democrata enviaram uma carta ao presidente Donald Trump, criticando duramente sua decisão de impor tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil. Os parlamentares consideraram a medida um “claro abuso de poder” e alertaram para os danos que uma guerra comercial pode causar à economia americana.
Segundo os signatários, a iniciativa de Trump visa interferir diretamente no sistema judiciário brasileiro em defesa de Jair Bolsonaro, seu aliado político. A carta foi enviada à Casa Branca e assinada por senadores como Tim Kaine, Adam Schiff, Jeanne Shaheen, entre outros.
“Grave abuso de poder”, dizem parlamentares
No documento, os senadores afirmam que a medida de Trump tem caráter pessoal, não comercial. Para eles, a tentativa de forçar o Brasil a interromper o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro compromete os princípios democráticos e prejudica os próprios interesses dos Estados Unidos.
“Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação”, diz um trecho da carta.
Além disso, os senadores lembram que os EUA registraram um superávit comercial com o Brasil de US$ 7,4 bilhões em 2024. Ou seja, não haveria justificativa econômica para as sanções impostas.
Comércio bilateral e empregos em risco
Os parlamentares também demonstraram preocupação com os efeitos econômicos da decisão de Trump. O comércio entre Brasil e Estados Unidos movimenta mais de US$ 40 bilhões ao ano. Só em café, os EUA importam cerca de US$ 2 bilhões. Aproximadamente 130 mil empregos em território americano estão ligados diretamente a essa relação comercial.
Dessa forma, uma retaliação brasileira pode aumentar os custos de produtos e ameaçar os postos de trabalho. “Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas”, alertam os senadores.
China se fortalece com tensão entre EUA e Brasil
Outro ponto levantado pelos democratas é o risco de o Brasil se aproximar ainda mais da China. A carta afirma que uma guerra comercial com o Brasil favorece a influência chinesa na América Latina, em um momento em que os Estados Unidos tentam contê-la.
Segundo os senadores, empresas estatais chinesas têm feito investimentos pesados no Brasil, inclusive em projetos estratégicos como portos e ferrovias. “Uma guerra comercial com o Brasil também aproximaria o país da República Popular da China (RPC)”, apontam.
Brasil busca diálogo; Trump resiste
Na sexta-feira (25), uma comitiva de senadores brasileiros embarcou para os Estados Unidos, com o objetivo de iniciar negociações diretas sobre as tarifas. No entanto, segundo o jornalista Valdo Cruz, o governo Lula foi informado de que Trump não autorizou nenhum canal de diálogo com o Brasil.
Enquanto isso, a tensão entre os países cresceu ainda mais após declarações do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Em resposta ao interesse norte-americano por minerais estratégicos brasileiros, Lula afirmou:
“Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, declarou o presidente.
Íntegra da carta dos senadores democratas
“Prezado Presidente Trump,
Escrevemos para expressar sérias preocupações sobre o claro abuso de poder presente em sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça de tarifas feita por sua administração claramente não se refere a isso. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral, já que os EUA tiveram um superávit de US$ 7,4 bilhões em bens com o Brasil em 2024 e não registram déficit comercial com o país desde 2007.
Na verdade — como o senhor afirma explicitamente em sua carta ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva — a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem para que o Representante de Comércio dos EUA inicie uma investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 têm como principal objetivo forçar o sistema judiciário independente do Brasil a interromper a acusação contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação. O Sr. Bolsonaro é um cidadão brasileiro sendo processado nos tribunais brasileiros por ações alegadamente cometidas sob jurisdição nacional. Ele é acusado de tentar minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de planejar um golpe de Estado.
Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em favor de um amigo é um grave abuso de poder, enfraquece a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região. O anúncio de sua administração em 18 de julho de 2025, de sanções de visto contra autoridades judiciais brasileiras envolvidas no caso do Sr. Bolsonaro, indica — mais uma vez — a disposição de sua administração em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.
Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas. Os americanos importam mais de US$ 40 bilhões por ano do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio entre EUA e Brasil sustenta cerca de 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão em risco diante da ameaça de tarifas elevadas. O Brasil também prometeu retaliar, e o senhor prometeu retaliar em resposta — o que significa que os exportadores americanos sofrerão e os impostos sobre importações para os americanos aumentarão além do nível de 50% que o senhor ameaçou.
Uma guerra comercial com o Brasil também aproximaria o país da República Popular da China (RPC) em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina. Empresas estatais e ligadas ao Estado chinês estão investindo fortemente no Brasil, incluindo vários projetos portuários em andamento. Recentemente, o China State Railway Group assinou um Memorando de Entendimento para estudar um projeto ferroviário transcontinental.
Essas considerações não são exclusivas do Brasil. Em toda a América Latina, a RPC está trabalhando para ampliar sua influência por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota. Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana na região e deem mais credibilidade à agenda de autoridades e empresas estatais chinesas. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e Sudeste Asiático.
Os objetivos principais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Instamos o senhor a reconsiderar suas ações e a priorizar os interesses econômicos dos americanos, que desejam previsibilidade — não outra guerra comercial”.
Atenciosamente,
Tim Kaine, Senador dos Estados Unidos
Jeanne Shaheen, Senadora dos Estados Unidos
Adam B. Schiff, Senador dos Estados Unidos
Richard J. Durbin, Senador dos Estados Unidos
Peter Welch, Senador dos Estados Unidos
Kirsten Gillibrand, Senadora dos Estados Unidos
Mark R. Warner, Senador dos Estados Unidos
Catherine Cortez Masto, Senadora dos Estados Unidos
Michael F. Bennet, Senador dos Estados Unidos
Jacky Rosen, Senadora dos Estados Unidos
Raphael Warnock, Senador dos Estados Unidos