TCU aponta pagamento de R$ 4,4 bilhões a pessoas mortas entre 2016 e 2025

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Pagamentos indevidos duraram quase uma década

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que, entre 2016 e fevereiro de 2025, o governo federal pagou R$ 4,4 bilhões a pessoas já falecidas. O valor inclui benefícios previdenciários, assistenciais, trabalhistas, além de salários de servidores públicos ativos.

Inicialmente, o ministro Jorge Oliveira informou que os pagamentos indevidos somavam R$ 2,7 bilhões entre 2016 e 2024. No entanto, em seu voto mais recente, ele atualizou o montante para R$ 4,4 bilhões, considerando dados até fevereiro de 2025.

Sistema de registros apresentou falhas críticas

Segundo o relatório do TCU, o principal problema está no Sistema Nacional de Informações de Registro Civil (Sirc). Essa plataforma é responsável por registros de nascimento, casamento, óbito e natimorto.

Conforme a auditoria, o Sirc deixou de registrar cerca de 13,1 milhões de óbitos nesse período. Essa omissão permitiu que benefícios continuassem sendo pagos mesmo após a morte dos beneficiários.

Pagamentos continuaram mesmo com óbito registrado

A falha não se restringe ao Sirc. Em fevereiro de 2025, por exemplo, o governo pagou R$ 21,2 milhões em benefícios previdenciários a mais de 11 mil pessoas que já tinham registro de óbito no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), gerenciado pelo Ministério da Saúde.

Além disso, o TCU constatou que, no mesmo mês, 650 servidores, aposentados ou pensionistas da administração pública federal receberam valores apesar de constarem como mortos no SIM. Esses pagamentos totalizaram cerca de R$ 3,6 milhões.

Ministros classificam situação como escandalosa

Diante do cenário, o ministro-relator Jorge Oliveira defendeu mudanças urgentes. Ele destacou a necessidade de regularizar os dados do Sirc e cruzá-los com outras bases públicas.

Já o presidente do TCU, Bruno Dantas, fez duras críticas à desorganização dos sistemas públicos. “Fomos incapazes, como nação, de integrar os nossos sistemas de forma eficiente”, afirmou. Para ele, os valores envolvidos são “alarmantes” e “escandalosos”.

Segundo Dantas, o problema poderia ser evitado com um sistema de notificação automática. “Uma certidão de óbito deveria, por exemplo, comunicar imediatamente o INSS para que o pagamento de benefícios fosse cessado”, completou.

Bolsa Família também apresentou pagamentos irregulares

O programa Bolsa Família também foi alvo da auditoria. Em fevereiro de 2025, o governo pagou o benefício a 971 pessoas com registro de falecimento no SIM. O valor total desses pagamentos chegou a R$ 580 mil.

Dessa forma, o TCU recomendou a revisão imediata dos mecanismos de checagem dos cadastros e o aprimoramento do cruzamento de informações entre os órgãos responsáveis.