
Nova tarifa dos EUA entra em vigor em agosto
A carne brasileira foi incluída entre os produtos atingidos pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos. A sobretaxa, assinada pelo presidente Donald Trump, começa a valer na terça-feira (06). Apesar do impacto direto recair sobre as empresas americanas importadoras, especialistas alertam que os efeitos podem ser sentidos, ainda que indiretamente, pelo consumidor brasileiro.
Alguns itens da lista, contudo, terão uma cobrança menor. Para esses produtos, a tarifa será de 10%, graças a exceções negociadas.
Consumidor não paga diretamente, mas pode sentir no bolso
Em um primeiro momento, os preços no supermercado não devem subir por conta da nova taxa. Isso porque a tarifa será aplicada às companhias americanas que comprarem alimentos do Brasil.
No entanto, se os EUA reduzirem seus pedidos para evitar o custo extra, a consequência pode ser uma queda nas exportações. Com mais produto no mercado interno, o preço pode baixar temporariamente. Em seguida, no entanto, o cenário pode mudar.
Queda nos abates deve pressionar preços
De acordo com Wagner Yanaguizawa, especialista em proteína animal do Rabobank, o tarifaço pode reforçar uma tendência já esperada: a redução no número de abates no segundo semestre.
Essa diminuição aconteceria de qualquer forma, mesmo sem a nova taxa. Isso porque os pecuaristas já estavam segurando fêmeas para reprodução, o que diminui a oferta de carne no mercado.
Com o tarifaço, a situação se agrava. Os produtores, diante da possível redução de demanda dos EUA, estão retendo também os bois que seriam engordados e abatidos. “Nós vamos ver o boi cair e, lá na frente, ver a carne subir mais ainda”, resume Cesar de Castro Alves, gerente de consultoria agro do Itaú BBA.
EUA são importantes, mas não lideram compras
Apesar da tensão com os Estados Unidos, a maior parte da carne brasileira segue para outros mercados. Atualmente, cerca de 80% da produção fica no próprio Brasil. Já entre os 20% exportados, os EUA representam 12% — bem atrás da China, que compra quase metade das exportações.
Segundo Alves, os americanos costumam importar, principalmente, a parte dianteira do boi, usada na produção de hambúrgueres. As demais partes seguem para outros destinos.
Possibilidade de redirecionamento das exportações
Mesmo com a tarifa, o Brasil pode buscar alternativas. Yanaguizawa acredita que parte da produção destinada aos EUA poderá ser redirecionada a países como o Egito, que tem ampliado sua demanda pela carne brasileira.
Além disso, o Brasil conta com uma vantagem estratégica: os principais concorrentes, como Estados Unidos e Austrália, enfrentam dificuldades sanitárias e reduziram suas produções.
Segundo o especialista, a oferta global de carne deve cair 2% nos próximos meses, o que favorece países exportadores como o Brasil.
Ração mais barata e pressão da China podem aliviar preços no curto prazo
No curto prazo, o consumidor brasileiro pode sentir uma leve queda nos preços. Isso porque a China está pressionando o Brasil para reduzir o valor das exportações. Caso os frigoríficos hesitem em vender, a oferta interna aumentaria, o que tende a baratear a carne temporariamente.
Outro fator que influencia nesse cenário é o custo da ração. Como ele caiu recentemente, o custo para engorda dos bois também diminuiu. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço do boi gordo caiu 7,21% em um mês, até segunda-feira (29).
Mesmo assim, os especialistas reforçam: essa baixa deve durar pouco. Com menos animais sendo preparados para o abate, a oferta cairá e os preços, inevitavelmente, voltarão a subir.