Revista Poder

Bolsonaro recorre ao STF e diz que prisão domiciliar é censura e punição antecipada

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou com recurso nesta quarta-feira (06) contra a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs prisão domiciliar, uso de tornozeleira eletrônica e proibição de contato com outros investigados.

No documento, os advogados solicitam que Moraes reconsidere a medida. Caso o ministro não aceite, pedem que o plenário físico do STF analise o caso com urgência.

A equipe jurídica afirma que a manifestação de Bolsonaro, feita por vídeo e direcionada a apoiadores em Copacabana, no Rio de Janeiro, foi genérica. Segundo os advogados, não houve falas que caracterizassem infrações penais.

Para a defesa, a decisão representa uma forma de punição antecipada. “Não há qualquer espaço para analisar esta frase como uma afirmação criminosa, afinal se nem saudar o público ele pode, então está proibido de se manifestar, o que se traduz em censura, da mesma forma que a prisão se traduz numa preocupante antecipação de pena, mesmo antes da apresentação da defesa final”.

Responsabilidade subjetiva e crítica à fundamentação de Moraes

Os advogados argumentam que Bolsonaro não pode ser punido por ações de terceiros. Criticaram ainda a justificativa de Moraes de que “a Justiça não é tola”.

“Todos sabemos que a Justiça não é tola, mas quando tratamos de direito penal e direito processual penal estamos no campo da responsabilidade subjetiva – o que, não seria necessário dizer, demanda prova e indícios concretos que o alvo da cautelar decidiu desrespeitar o Judiciário”.

Outro ponto levantado pela defesa se refere ao contexto do vídeo e à presença de símbolos estrangeiros nos atos. “Não parece razoável punir com prisão” Bolsonaro porque “saudou uma multidão em que algumas pessoas se faziam acompanhar de bandeiras americanas”.

Moraes aponta reincidência e tentativa de burlar a Justiça

A prisão domiciliar de Bolsonaro foi decretada após o ministro considerar que o ex-presidente violou medidas judiciais anteriormente impostas. Ele já estava obrigado a cumprir recolhimento noturno, usar tornozeleira eletrônica e evitar contato com outros investigados.

De acordo com Moraes, Bolsonaro atuou indiretamente nas manifestações de domingo (03), ao utilizar perfis de aliados nas redes sociais — inclusive os de seus filhos parlamentares — para divulgar conteúdos que incentivavam ataques ao STF e pediam intervenção estrangeira.

O ministro classificou a conduta como “ilícita e dissimulada”, com uso de material preparado com antecedência e clara intenção de coagir a Corte. Ele elencou as seguintes evidências:

Moraes escreveu na decisão: “A Justiça é cega, mas não é tola. E não permitirá que um réu a faça de tola, achando que ficará impune por ter poder político e econômico”.

Réu por tentativa de golpe e risco de até 44 anos de prisão

Além da prisão domiciliar, Bolsonaro já responde como réu por suposta tentativa de golpe de Estado. A Procuradoria-Geral da República (PGR) o acusa por crimes graves como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e associação criminosa.

A pena somada pode chegar a 44 anos de reclusão, caso seja condenado por todos os crimes denunciados. A PGR já solicitou formalmente a condenação do ex-presidente.

Enquanto isso, o recurso da defesa agora aguarda manifestação da própria PGR, que deverá se posicionar antes de a Primeira Turma do STF analisar o pedido.

Sair da versão mobile