
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a farmacêutica EMS firmaram dois importantes acordos para a produção nacional dos princípios ativos semaglutida e liraglutida — conhecidos como os principais componentes das chamadas canetas emagrecedoras, utilizadas no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
Segundo nota conjunta, os acordos preveem a transferência de tecnologia tanto da síntese do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) quanto do medicamento final para Farmanguinhos, unidade técnico-científica da Fiocruz. Inicialmente, a produção ocorrerá na fábrica da EMS, em Hortolândia (SP), até que a transferência de tecnologia seja concluída para o Complexo Tecnológico de Medicamentos da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
“As injeções subcutâneas oferecem uma abordagem de alta eficácia e são consideradas inovadoras para o tratamento de diabetes e obesidade, marcando mais um avanço significativo da indústria nacional no desenvolvimento de soluções de alta complexidade”, afirma o comunicado.
A Farmanguinhos ressaltou que essa iniciativa inaugura a preparação da Fiocruz para produzir medicamentos injetáveis, além de reforçar a estratégia de fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
Controle e uso responsável
Com a crescente popularização desses medicamentos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu, em abril, impor novas regras para o controle de prescrição e venda. Desde junho, farmácias e drogarias são obrigadas a reter as receitas médicas na hora da compra.
Além da semaglutida e liraglutida, outras substâncias da classe dos agonistas GLP-1 também passaram a ter regras mais rígidas: dulaglutida, exenatida, tirzepatida e lixisenatida. A Anvisa justificou a medida como uma forma de proteger a população, após identificar um aumento no número de efeitos adversos relacionados ao uso indevido desses fármacos.
Entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade, apoiaram a decisão, destacando os riscos do uso indiscriminado e a importância de garantir o acesso adequado para quem realmente precisa.
“A venda de agonistas de GLP-1 sem receita médica, apesar de irregular, é frequente. Essa lacuna facilita o acesso indiscriminado e a automedicação, expondo indivíduos a riscos desnecessários”, alertaram em nota.
SUS e acesso público
O debate sobre a inclusão de medicamentos como a semaglutida no Sistema Único de Saúde (SUS) também está em curso. Em junho, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) abriu consulta pública sobre o tema, recebendo contribuições da sociedade até o final daquele mês.
Apesar da demanda, o parecer técnico da comissão, divulgado em maio, foi contrário à incorporação do medicamento Wegovy — versão da semaglutida para tratamento da obesidade —, apontando um custo estimado de até R$ 7 bilhões em cinco anos para o sistema público.
A decisão final dependerá das análises técnicas, econômicas e sociais que ainda estão em andamento.
Fonte: Agência Brasil