
A Embraer (EMBR3) atravessa um dos períodos mais promissores de sua história recente. Depois de anos enfrentando oscilações na demanda global por aeronaves e desafios na cadeia de suprimentos, a companhia brasileira volta a se destacar no cenário internacional.
Nos últimos meses, a fabricante vem expandindo sua carteira de pedidos (backlog), que alcançou US$ 29,7 bilhões no segundo trimestre de 2025 — o maior patamar já registrado. Na divisão de aviação comercial, o volume chegou a US$ 13,1 bilhões, o mais alto em oito anos, enquanto o segmento de defesa e segurança atingiu US$ 4,3 bilhões.
E195-E2: o motor do novo ciclo de crescimento
O destaque dessa nova fase é a família de jatos E2, especialmente o E195-E2, que tem atraído companhias aéreas de diferentes perfis e regiões. Em setembro, a Latam Airlines anunciou um pedido de até 74 aeronaves, incluindo 24 entregas firmes e 50 opções adicionais, marcando a primeira aquisição do grupo latino-americano junto à Embraer.
O contrato se soma a uma sequência de acordos que vêm reposicionando a fabricante:
- SAS (Scandinavian Airlines): 45 jatos E195-E2, com opção para mais 10;
- SkyWest: 60 aeronaves firmes e 50 direitos adicionais, consolidando-se como a maior operadora global de E-Jets;
- Avelo Airlines (EUA): 50 aeronaves firmes e 50 opcionais — a primeira operação dos E195-E2 por uma companhia norte-americana;
- All Nippon Airways (ANA): 15 jatos E190-E2, com opções para mais cinco.
Segundo analistas do Santander, o novo perfil de pedidos traz maior diversificação geográfica e de clientes, reduzindo riscos de concentração em companhias regionais menores — um dos pontos de atenção da Embraer nos últimos anos.
“Com as novas encomendas, a Embraer abre um horizonte de oportunidades. A qualidade da carteira é hoje muito superior ao período pré-pandemia”, avalia Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.
Latam e o impulso regional
O acordo com a Latam tem impacto simbólico e estratégico. A companhia será a primeira operadora de E2 em um país andino, fortalecendo a presença da Embraer na América do Sul. Para a aérea, os jatos E195-E2 ajudam a ampliar a capacidade de voos regionais em meio à expansão pós-pandemia.
Contudo, os analistas do Santander alertam que a diversificação de frota implica custos operacionais maiores, já que exige novos pilotos, treinamentos e manutenção específica. Ainda assim, a operação deve gerar ganhos de flexibilidade e eficiência em rotas curtas e médias, onde o consumo de combustível e a sustentabilidade pesam mais nas decisões.
Defesa e novos mercados estratégicos
O segmento de defesa e segurança também impulsiona os resultados da Embraer. A empresa tem conquistado espaço entre países da OTAN, com contratos recentes na Suécia, Lituânia, Portugal, Uruguai e Panamá, envolvendo os modelos C-390 Millennium e A-29 Super Tucano.
Esses acordos consolidam a posição da Embraer como uma das principais fornecedoras globais de aeronaves multimissão, ampliando o peso da divisão de defesa dentro da carteira total de pedidos.
Ações em alta e foco no futuro
Desde o início de 2025, as ações da Embraer acumulam alta de cerca de 33%, e o desempenho no período de 12 meses chega a 67%. O avanço é atribuído à melhora na qualidade da carteira de pedidos, à recuperação da cadeia produtiva e ao crescimento da EVE (EVEX), subsidiária voltada para mobilidade aérea urbana.
“Os anúncios da nova família E2 só estão começando — e o mercado espera mais. A Embraer vive um ciclo de credibilidade renovada”, afirma Arbetman.
Com a carteira recorde, presença ampliada em mercados estratégicos e forte pipeline de inovação, a Embraer se consolida como uma das protagonistas globais da aviação regional — e dá sinais de que o céu, agora, voltou a ser o limite.
Fonte: Bloomberg Línea