
O empresário argentino Marcelo Mindlin, dono da Pampa Energía e um dos nomes mais influentes do setor privado em seu país, está prestes a assumir o controle da InterCement, terceira maior produtora de cimento do Brasil. A mudança ocorre após a saída definitiva da família Camargo Corrêa, antiga controladora do grupo Mover, que entrou em recuperação judicial no fim de 2024.
A virada da InterCement
A assembleia de credores realizada nesta segunda-feira (6) selou a nova fase da empresa, transferindo o comando da cimenteira para um grupo liderado por Mindlin. O consórcio — que inclui as gestoras Moneda, Redwood e Contrarian — adquiriu cerca de R$ 7,3 bilhões em títulos de dívida da InterCement, de um total de R$ 9 bilhões, tornando-se o principal credor e, consequentemente, o novo controlador.
A estratégia segue o modelo “loan-to-own”, em que investidores compram dívidas para convertê-las em participação acionária. O acordo permite que os credores tenham poder de voto e participação direta na gestão da companhia, substituindo os antigos donos.
Loma Negra: a joia argentina
O grande interesse de Mindlin é a Loma Negra, subsidiária da InterCement na Argentina, responsável por 45% do mercado de cimento argentino. A empresa teve lucro de US$ 19,2 milhões no primeiro semestre de 2025 e receita líquida de US$ 291 milhões. Com 52,1% das ações sob controle da InterCement, a Loma Negra é considerada a “joia da coroa” do grupo.
Além do valor simbólico — a empresa foi fundada em 1926 por Amalia Fortabat e vendida à Camargo Corrêa por US$ 1 bilhão há 20 anos —, o ativo representa um importante elo com os negócios de Mindlin na SACDE, sua construtora, e na Pampa Energía, maior empresa privada de energia da Argentina.
A dúvida sobre o futuro no Brasil
Com a mudança de controle, o destino das operações brasileiras da InterCement ainda é incerto. O grupo mantém dez fábricas e marcas tradicionais como Cauê, Goiás e Zebu, responsáveis por 14% do mercado nacional. Especialistas acreditam que Mindlin deve concentrar esforços na Loma Negra, enquanto os demais ativos podem ser vendidos a outros investidores.
Da energia ao cimento: o estilo Mindlin
Nascido em La Carlota, província de Córdoba, em 1964, Mindlin construiu sua fortuna com aquisições estratégicas em momentos de crise. Em 2016, comprou a Petrobras Argentina por US$ 875 milhões, transformando-a em um dos pilares da Pampa Energía. Também adquiriu a construtora IECSA, da família Macri, rebatizando-a como SACDE, hoje uma das maiores empreiteiras da Argentina.
Com patrimônio estimado em US$ 900 milhões, segundo a Forbes 2024, o empresário segue a filosofia de “comprar na crise e crescer com liquidez”. Agora, aplica o mesmo princípio à InterCement, buscando transformar o endividamento em uma nova fase de expansão e rentabilidade.
Uma nova era para a InterCement
A saída da família Camargo marca o fim de uma era de mais de oito décadas desde a fundação da empresa, em 1939. O novo comando promete reestruturar a operação e definir o futuro da Loma Negra até 2026, quando será decidida a eventual venda ou integração completa ao grupo Pampa.
A entrada de Marcelo Mindlin simboliza uma virada histórica: a InterCement deixa de ser um braço da engenharia brasileira para se tornar parte de um conglomerado argentino, com visão global e foco em eficiência, liquidez e crescimento sustentável.
Fonte: Invest News