Revista Poder

Mover propõe plano de recuperação judicial com prazo recorde de 40 anos para pagamento de credores

Foto Reprodução Interner/ Divulgação Movida

O Grupo Mover, antigo Camargo Corrêa, apresentou um novo plano de recuperação judicial que prevê prazos de pagamento de até 40 anos — um dos mais longos já registrados no mercado brasileiro. O grupo busca reestruturar dívidas que somam R$ 21,1 bilhões, após um agravamento financeiro iniciado em 2024.

O plano, protocolado na 1ª Vara de Falências de São Paulo, envolve três holdings — Mover Participações, Sucea Participações e Sincro Participações — e prevê a venda de ativos estratégicos, incluindo a participação de 14,86% na Motiva (ex-CCR), avaliada em R$ 2,6 bilhões. Essa fatia representa cerca de 72% do valor líquido disponível para os credores e é considerada essencial para viabilizar o plano.

A empresa também estima o ingresso de R$ 900 milhões em 2026, provenientes de uma transação ainda não detalhada, além de R$ 102 milhões em dividendos da Motiva previstos para 2025.

Estrutura do plano e condições de pagamento

O plano oferece diferentes opções de pagamento aos credores.

A estrutura favorece quem aceitar valores menores e mais imediatos. No entanto, a sustentabilidade financeira do plano depende de múltiplas condições — como a concretização da venda da fatia na Motiva e o recebimento efetivo dos recursos esperados.

Crise e origem do endividamento

A origem da crise remonta a 2012, quando a então Camargo Corrêa adquiriu a portuguesa Cimpor por cerca de 3 bilhões de euros. A operação, que visava expansão internacional, foi comprometida por fatores externos, como a desvalorização do real, o aumento da taxa Selic e a queda de 27% no setor de cimento entre 2015 e 2018.

Desde então, a companhia vem enfrentando dificuldades para equilibrar seu fluxo de caixa. Em 2024, a situação se agravou após o Bradesco BBI exercer uma opção de compra de ações superior a R$ 3 bilhões, que o grupo não conseguiu honrar. A tentativa de reestruturação extrajudicial fracassou, culminando no pedido formal de recuperação judicial em dezembro de 2024.

Perspectivas e desafios

Para que o plano seja aprovado, o Mover precisa da adesão da maioria dos credores e da concretização de todas as premissas financeiras. Ainda há incertezas sobre o impacto de passivos trabalhistas, cíveis e tributários — além de processos judiciais em andamento que podem gerar novas obrigações.

A controlada InterCement, em recuperação judicial separada, possui passivo de R$ 21,1 bilhões e está preparando a venda de seu negócio de cimentos, considerada uma etapa essencial para a recuperação do grupo.

O caso da Mover ilustra o desafio das grandes empresas brasileiras em equilibrar dívidas elevadas, custos operacionais crescentes e a necessidade de atrair investidores em meio a um cenário econômico global mais restritivo.

 

Fonte: Invest News

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