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Eleição legislativa na Argentina é teste decisivo para Milei e divide apostas em Wall Street

Design sem nome - milei

As eleições legislativas que acontecem neste domingo (26) na Argentina são vistas por investidores e analistas internacionais como um momento crucial para o futuro político e econômico do país — e um verdadeiro dilema para o mercado financeiro. Conhecido como o “trade Milei”, o cenário em torno do desempenho da coalizão La Libertad Avanza, do presidente Javier Milei, tornou-se um dos temas mais acompanhados em Wall Street.

Expectativas e riscos

Após a derrota de seu partido em eleições locais no mês passado, os investidores permanecem cautelosos. Uma nova perda significativa nas urnas poderia enfraquecer a base política do presidente e colocar em xeque sua agenda de reformas econômicas. Por outro lado, caso Milei garanta ao menos um terço das cadeiras no Congresso, os mercados tendem a reagir positivamente, interpretando o resultado como um sinal de estabilidade política e continuidade das reformas.

Mesmo assim, grandes instituições financeiras — como Morgan Stanley, UBS Group e JPMorgan — alertam para a persistência de riscos. Um desempenho abaixo do esperado pode representar ameaça à credibilidade das medidas de austeridade e ao apoio financeiro dos Estados Unidos, cujo governo tem sustentado a moeda argentina por meio de um pacote bilionário de ajuda.

O papel dos EUA e a pressão sobre o peso argentino

Nas últimas semanas, o governo Trump intensificou esforços para conter a desvalorização do peso argentino, comprando a moeda local e ampliando uma linha de crédito de US$ 20 bilhões para Buenos Aires. A medida ajudou a estabilizar temporariamente os mercados, mas também gerou dúvidas sobre sua sustentabilidade a longo prazo.

O peso argentino segue sob forte pressão, e os títulos soberanos continuam oscilando antes do pleito. Um resultado negativo para Milei pode levar à reversão dos ganhos recentes e reacender temores de uma nova desvalorização.

Confiança abalada e dilema dos investidores

O episódio de forte queda nos mercados argentinos no mês passado, após a derrota do partido de Milei em Buenos Aires, ainda está vivo na memória dos investidores. A volatilidade fez bancos e fundos revisarem suas apostas e adotarem uma postura mais defensiva.

“Se as eleições correrem muito bem e o partido dele obtiver um terço, a Argentina pode se recuperar. Mas não quero ser pego em um cenário de baixa”, afirmou Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management, em Miami.

Reformas e governabilidade em jogo

Além do impacto imediato nos mercados, as eleições definirão a capacidade de Milei de aprovar reformas macroeconômicas — parte central de sua promessa de transformar a Argentina. Apesar de avanços na redução da inflação, seus cortes drásticos em programas sociais e um escândalo de corrupção envolvendo aliados próximos desgastaram sua imagem de reformador.

Analistas do JPMorgan avaliam que o resultado também será um teste para o estilo de liderança do presidente. “Possuir um terço de veto no Congresso não substitui as alianças necessárias para aprovar reformas críticas. Será essencial adotar uma postura mais pragmática”, escreveu o economista Diego Pereira em relatório aos clientes.

Um pleito decisivo

Em meio à tensão política e à incerteza econômica, as eleições de meio de mandato na Argentina devem definir o ritmo das reformas e o futuro do apoio internacional ao governo Milei. Para os investidores, o dilema permanece: apostar em uma recuperação sustentada ou evitar o risco de novas perdas em um cenário ainda imprevisível.

Fonte: Bloomberg Línea

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