O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney, uma das figuras mais influentes e controversas da política norte-americana do início do século XXI, morreu na noite de segunda-feira (3), aos 84 anos, em decorrência de complicações de pneumonia e problemas cardíacos e vasculares, segundo informou sua família nesta terça-feira (4).
Vice-presidente de George W. Bush entre 2001 e 2009, Cheney foi um dos principais idealizadores da “guerra ao terror”, lançada após os atentados de 11 de setembro de 2001, e desempenhou papel central na invasão do Iraque em 2003 — um dos episódios mais marcantes e polêmicos da política externa americana contemporânea.
O estrategista do poder
Descrito como um homem reservado e meticuloso, Cheney expandiu como poucos o poder da vice-presidência, transformando o cargo — até então visto como simbólico — em um verdadeiro centro de influência política. Ele defendia a ampliação dos poderes executivos da Casa Branca, que, em sua visão, haviam sido enfraquecidos desde o escândalo de Watergate.
Foi também o mentor intelectual de uma política externa agressiva, baseada na doutrina da intervenção preventiva, que justificou a invasão do Iraque sob a alegação de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa — o que nunca foi comprovado. A guerra, que deixou centenas de milhares de mortos e desestabilizou o Oriente Médio, tornou-se o legado mais controverso de sua trajetória.
Figura de ferro e alvo de críticas
Durante o governo Bush, Cheney teve embates com figuras centrais da administração, como os secretários de Estado Colin Powell e Condoleezza Rice, e foi um defensor declarado de técnicas de interrogatório “aprimoradas” — posteriormente classificadas como tortura por organismos internacionais.
Suas posições duras lhe renderam a fama de “homem das sombras” da Casa Branca — alguém que, mesmo sem buscar protagonismo público, moldou silenciosamente decisões estratégicas de alcance global.
Mudança de rumo e críticas a Trump
Nos últimos anos, Cheney surpreendeu parte do Partido Republicano ao romper com Donald Trump. Em 2024, declarou apoio à democrata Kamala Harris na corrida presidencial, afirmando que Trump representava “a maior ameaça à república americana em 248 anos”.
Sua filha, Liz Cheney, seguiu caminho semelhante: foi uma das principais vozes republicanas contra o ex-presidente e integrou o comitê que investigou a invasão do Capitólio em 2021.
Uma vida marcada pela guerra e pela sobrevivência
Antes de se tornar vice-presidente, Cheney havia sido secretário de Defesa durante o governo de George H. W. Bush, comandando as forças americanas na Guerra do Golfo. Também foi deputado pelo estado de Wyoming e construiu sólida carreira nos bastidores do poder em Washington.
Ao longo da vida, enfrentou sérios problemas cardíacos — o primeiro infarto aos 37 anos e um transplante de coração em 2012. Apesar das limitações, manteve-se ativo politicamente até os últimos anos, sempre fiel à visão de um Estado forte e de uma política externa assertiva.
“Eu acordo todos os dias agradecido por estar vivo”, disse em 2013, já após o transplante. Era o reflexo de um homem que viveu entre o poder e a precariedade da própria saúde — e que, com sua morte, encerra um capítulo decisivo da história recente dos Estados Unidos.
Fonte: Globo
