O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou ao blog que cabe ao presidente da Casa escolher os deputados federais responsáveis por cada projeto, como o caso de Guilherme Derrite (PP-SP) para o PL antifacção. Motta defendeu que é prerrogativa do presidente da Câmara definir quem deve cuidar de cada assunto e que “escolhe quem quiser”. No caso de Derrite, disse tê-lo escolhido por se tratar do secretário de Segurança Pública do maior estado do país, e não por ser “um homem de Tarcísio”, em referência ao governador de São Paulo.
Derrite é secretário de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e foi licenciado do cargo pelo governador paulista para reassumir o mandato na Câmara e relatar o projeto antifacção. Motta afirmou ainda que, se houver consenso sobre o tema, pretende colocar o texto em votação ainda nesta semana. O presidente da Câmara disse também ter pedido para Derrite conversar com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, antes de o projeto ser analisado pelos parlamentares.
A escolha de Motta foi criticada pelo Palácio do Planalto, que considera a decisão uma forma de entregar à direita um tema central da eleição de 2026. A segurança pública é uma das principais preocupações do eleitorado, segundo levantamento da Quaest. Diante da insatisfação, o governo Lula (PT) avalia medidas de reação, entre elas o bloqueio temporário de pagamento de emendas parlamentares.
Na sexta-feira (7), logo após assumir a relatoria, Derrite apresentou um substitutivo que propõe equiparar o crime organizado ao terrorismo, proposta alinhada ao discurso de governadores de direita, como Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, após a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha contra o Comando Vermelho.
Para interlocutores do Planalto, ao escolher Derrite, Hugo Motta buscou se aproximar da oposição e fortalecer seu capital político com vistas à reeleição à presidência da Câmara em 2026. A avaliação dentro do governo é que o gesto ocorre após uma sequência de vitórias do Planalto no Congresso, como a aprovação da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda — uma das promessas de campanha de Lula —, em um momento em que pautas da oposição, como a anistia aos réus dos atos golpistas, perderam força.
