Os Estados Unidos estudam ampliar suas operações na Venezuela, em um movimento que elevaria ainda mais a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro. A informação foi divulgada pela agência Reuters, que ouviu autoridades norte-americanas sob condição de anonimato. Embora ainda não haja definição sobre o alcance ou o momento exato dessa possível nova fase, integrantes do governo de Donald Trump teriam admitido que até a derrubada do presidente venezuelano está entre as opções em debate.
Segundo a agência, o Pentágono preferiu encaminhar questionamentos à Casa Branca, enquanto a CIA não se pronunciou. O Ministério das Comunicações da Venezuela também não respondeu aos pedidos de posicionamento. Uma das autoridades ouvidas afirmou que Trump está disposto a recorrer a todos os instrumentos disponíveis para conter o fluxo de drogas ilegais para o território norte-americano e responsabilizar os envolvidos. Washington acusa Maduro de ter papel relevante nesse esquema, algo repetidamente negado pelo líder venezuelano.
Maduro, no poder desde 2013, argumenta que as iniciativas dos Estados Unidos buscam derrubá-lo e controlar os recursos energéticos do país. Ele declara que as forças armadas e a população irão resistir a qualquer tentativa de intervenção. A presença americana na região vem crescendo ao longo dos últimos meses, acompanhada da autorização presidencial para operações encobertas conduzidas pela CIA no território venezuelano.
Na sexta-feira, a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos emitiu um alerta às principais companhias aéreas sobre riscos potencialmente elevados ao sobrevoar a Venezuela. A orientação pede cautela até que haja mais clareza sobre o cenário político e militar.
Como parte da estratégia, Washington planeja classificar o Cartel de los Soles como organização terrorista. A medida deve ser anunciada na próxima segunda-feira e está relacionada às acusações de envolvimento do grupo no tráfico internacional de drogas. O governo dos Estados Unidos atribui a Maduro a liderança do cartel, alegação que o presidente venezuelano rejeita.
Em paralelo, Trump reforça o cerco em busca da prisão de Maduro. A recompensa oferecida por informações que levem à captura do líder foi elevada em agosto para cinquenta milhões de dólares. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, afirmou recentemente que a designação de organização terrorista ampliará significativamente o leque de ações possíveis. O próprio Trump declarou que isso permitiria uma ofensiva direta contra estruturas e ativos ligados ao governo de Caracas, embora também tenha sinalizado abertura para negociações que levem a uma solução diplomática.
Maduro, por sua vez, disse estar disposto a dialogar e que questões pendentes entre os países devem ser tratadas por vias diplomáticas. De acordo com fontes da Reuters, conversas entre representantes de Washington e Caracas estariam em andamento, mas não há clareza sobre o impacto dessas tratativas no cronograma das possíveis operações militares.
O cenário no Caribe também ganhou peso estratégico. O porta-aviões Gerald R. Ford, o maior da Marinha dos Estados Unidos, chegou à região em meados de novembro acompanhado por um amplo grupo de ataque, incluindo outros navios militares, um submarino nuclear e aeronaves F-35. Até o momento, as forças americanas concentram suas ações em operações de combate ao narcotráfico, embora o aparato reunido supere em muito o necessário para esse tipo de missão.
Desde setembro, os militares dos Estados Unidos realizaram mais de vinte ataques contra barcos suspeitos de transportar drogas. Pelo menos oitenta e três pessoas morreram durante essas ações, principalmente no Caribe, mas também em áreas do Pacífico. Organizações de defesa dos direitos humanos criticaram a conduta das tropas americanas e classificaram os episódios como execuções extrajudiciais. Alguns aliados de Washington expressaram preocupação com possíveis violações do direito internacional.
O governo Trump sustenta que a ofensiva visa conter o tráfico de drogas, apontado como responsável por milhões de mortes em overdoses. No entanto, especialistas ressaltam que a maior parte dessas mortes está relacionada ao fentanil, substância produzida principalmente no México. Embora parte da cocaína destinada aos Estados Unidos seja transportada pelo Caribe, grande volume chega pelo Pacífico.
Diante da evidente disparidade entre as capacidades militares dos dois países, analistas afirmam que o governo venezuelano tem revisado possíveis estratégias de defesa. Entre elas está a chamada resistência prolongada, uma forma de resposta organizada em pequenas unidades espalhadas por todo o território, com táticas inspiradas em ações de guerrilha. Documentos consultados pela Reuters sugerem que o plano incluiria sabotagens e movimentos coordenados em mais de duzentos locais.
Com o aumento da pressão e a presença militar reforçada na região, o clima entre os dois países permanece imprevisível, enquanto governos e organismos internacionais observam com preocupação a escalada de tensões.