A indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal movimentou os corredores do Senado nesta semana e expôs, mais uma vez, as fricções entre o governo federal e a cúpula do Congresso. Desde que foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a vaga na Corte, o ministro da Advocacia-Geral da União tem percorrido gabinetes, conversado reservadamente com parlamentares e tentado consolidar uma base mínima que lhe garanta aprovação na sabatina marcada para o dia 10 de dezembro.
Messias começou a circular com mais intensidade entre terça e quarta-feira. Nesse período, passou pelos gabinetes de Lucas Barreto, Sérgio Petecão, Eliziane Gama e pela liderança do MDB, ocupada por Eduardo Braga. Ao ser questionado sobre o clima das negociações, afirmou que o processo estava sob controle e que seguiria buscando votos. A estratégia adotada tem priorizado legendas menos alinhadas ao Planalto, como PSD, União Brasil e setores do MDB, onde há divisões internas.
A movimentação ocorre em meio ao desconforto expresso pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que tinha outra preferência para a vaga no STF. A rapidez com que o calendário foi montado — da indicação ao anúncio da data da sabatina — gerou interpretações dentro da base governista de que o Senado estaria dando uma resposta política à escolha de Lula, reduzindo o tempo para Messias ampliar seu apoio.
Além do prazo curto, pesa outro impasse: a mensagem oficial do governo confirmando a indicação, necessária para formalizar o processo na Comissão de Constituição e Justiça, ainda não foi enviada. Otto Alencar, presidente da CCJ, afirmou que o anúncio da sabatina foi feito acreditando que o documento já havia sido protocolado, o que não ocorreu. Sem a mensagem, o rito segue pendente.
Para tentar reduzir as tensões, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, informou que Lula e Alcolumbre devem se reunir nos próximos dias. O objetivo seria apaziguar o ambiente e garantir que a tramitação ocorra sem atrasos adicionais. Ainda não há data confirmada para o encontro nem previsão de quando o Planalto enviará a mensagem necessária.
Paralelamente às negociações por votos, Messias enfrenta pressão adicional na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga fraudes em aposentadorias do INSS. A CPMI deve analisar nesta quinta-feira cinco pedidos de convocação para ouvir o ministro. Os requerimentos foram apresentados por parlamentares da oposição, que alegam que a AGU tinha conhecimento de descontos irregulares sem atuar para impedir o problema. Há também questionamentos sobre a participação do órgão na nomeação de Virgílio de Oliveira para a Procuradoria do INSS.
Randolfe Rodrigues afirmou que o governo vai trabalhar para barrar a convocação, classificando a iniciativa como tentativa de desgaste político em meio à corrida por votos no Senado. Nos bastidores, assessores do governo avaliam que a pressão na CPMI pode influenciar o processo de aprovação no plenário, marcado para ocorrer no mesmo dia da sabatina.
Enquanto isso, Messias continua sua peregrinação pelos gabinetes, tentando, voto a voto, se aproximar da cadeira mais alta do Judiciário. A expectativa é de que o quadro fique mais claro após o encontro entre Lula e Alcolumbre, que pode redefinir o tom da disputa nos bastidores do Senado.
