Revista Poder

Financial Times afirma que Lula venceu disputa tarifária com Donald Trump

Foto: Ricardo Stuckert/PR

A colunista Gillian Tett, do jornal britânico Financial Times, destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso após meses de tensão com o governo dos Estados Unidos. Segundo ela, a reversão das tarifas impostas por Donald Trump representa um recuo significativo de Washington no embate comercial com o Brasil.

Tett abre sua análise de forma irônica, lembrando que Trump havia anunciado, em agosto, um aumento de 40% sobre as importações brasileiras. Com a recente decisão americana de retirar as sobretaxas de mais de 200 produtos — como café, carne bovina, frutas e cacau — a colunista sugere que muitos brasileiros agora poderiam repetir a provocação “Trump Always Chickens Out” (“Trump sempre amarela”).

A retirada das tarifas ocorreu após reuniões diplomáticas entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. A medida amplia o recuo iniciado na semana anterior, quando Washington já havia reduzido tarifas sobre outros 200 itens alimentícios.

Para justificar o tarifaço, Trump havia acusado o governo brasileiro de ameaçar a segurança nacional americana, citando especialmente críticas ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, por suposta perseguição a apoiadores de Jair Bolsonaro e por restrições a empresas de tecnologia dos EUA. No entanto, segundo o Financial Times, Lula respondeu de maneira firme e desafiadora às pressões, o que reforçou sua imagem política dentro do Brasil.

Três lições destacadas pela análise

A colunista aponta três conclusões principais sobre o episódio. A primeira é que a Casa Branca passou a sentir maior pressão interna diante do aumento no custo de vida. Pesquisas estariam mostrando queda na confiança do consumidor e na popularidade de Trump, tornando a redução das tarifas agrícolas uma medida politicamente conveniente.

A segunda lição, segundo Tett, é que “valentões geralmente respondem à força”. Assim como China e outros países já demonstraram, o Brasil teria conseguido conter a ofensiva justamente por não ceder às ameaças. A mensagem, aponta, é clara: entender os pontos fracos de Trump é essencial para lidar com ele.

A terceira lição envolve a distinção entre táticas e objetivos do governo americano. Para Tett, Trump costuma agir sem uma estratégia totalmente definida, usando métodos como ameaças, abruptas mudanças de postura, favoritismo e anúncios dramáticos — elementos que ela descreve como parte de sua abordagem transacional, cujo foco é sempre obter vantagem.

Segundo a colunista, movimentos como o recuo tarifário fazem parte de um padrão e não devem ser interpretados como mudanças permanentes, mas sim como ajustes táticos que a Casa Branca faz sem grandes constrangimentos. Ela lembra que, na mesma semana da guinada pró-Brasil, Trump também retomou diálogo com o prefeito de Nova York, Zohran Mamdani.

Apesar de reconhecer que o comportamento do presidente americano muitas vezes parece errático, Tett reforça que distinguir o “sinal” do “ruído” é fundamental para entender sua atuação. No caso brasileiro, conclui, Lula enviou um recado importante: “Reis raramente são tão todo-poderosos quanto parecem”.

 

Fonte: Globo/G1

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