O governo brasileiro trabalha com a expectativa de que os Estados Unidos devem apresentar novas exigências antes de avançar na redução das sobretaxas aplicadas a produtos nacionais. A avaliação ocorre após o anúncio, feito em novembro pelo governo Donald Trump, que retirou a tarifa extra de 40% sobre itens como carne e café, aliviando parte do agronegócio, mas mantendo forte pressão sobre a indústria brasileira.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, 22% das exportações brasileiras aos EUA continuam submetidas ao tarifaço de 40% — ou a uma combinação entre essa alíquota e a adicional de 10%, variando conforme o produto. Outros 15% seguem atingidos apenas pela sobretaxa de 10%. Das vendas totais ao mercado norte-americano, estimadas em US$ 40,4 bilhões em 2024, o governo calcula que US$ 8,9 bilhões ainda enfrentam a tarifa máxima, US$ 6,2 bilhões estão sob o adicional de 10%, US$ 14,3 bilhões estão livres das cobranças e US$ 10,9 bilhões continuam sujeitos às tarifas da Seção 232.
A expectativa do governo é que, para ampliar o escopo das reduções, Washington deve solicitar contrapartidas ainda não especificadas. Até agora, não houve indicação formal sobre quais demandas poderiam ser apresentadas pelos norte-americanos, mas Brasília considera o movimento provável.
Paralelamente à questão comercial, o governo Lula busca resolver em curto prazo as sanções impostas a autoridades brasileiras. Entre elas estão a suspensão de vistos de ministros e a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Integrantes do governo avaliam que, embora o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro tenha sido mencionado informalmente no início das conversas bilaterais, o assunto não avançou nas negociações.
Com o diálogo reaberto entre os dois países, a avaliação interna é de que as sanções perderam sentido político. Em julho, Trump afirmou que Bolsonaro deveria ser “deixado em paz”, classificando as investigações contra o ex-presidente como uma “caça às bruxas”.