A escolha de Jorge Rodrigo Araújo Messias para o Supremo Tribunal Federal movimentou o Senado e despertou interesse de lideranças religiosas. Evangélico de tradição batista e servidor de carreira, Messias consolidou a imagem de técnico discreto, avesso a confrontos — exatamente o tipo de perfil que aliados consideram valioso em um ambiente de tensão institucional.
Recifense, com parte da infância vivida em Teresina, Messias estudou em escola pública e foi ligado desde cedo à Igreja Batista Cristã. Em uma palestra na Universidade Federal de Pernambuco, em 2022, afirmou que as duas instituições que moldaram seu senso de responsabilidade foram “a escola pública e a igreja”, destacando a importância da escuta e da preservação do espaço coletivo.
Formado em Direito pela UFPE, conciliou estudos com estágios até ingressar, em 2003, na Caixa Econômica Federal. Em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos, em 2021, contou que o trabalho no balcão da agência lhe deu noção do impacto do serviço público na vida de pessoas comuns. Depois, acumulou aprovações para cargos de analista do Judiciário, procurador dos Tribunais de Contas, do Banco Central e, por fim, da Fazenda Nacional — posto que o levou ao núcleo jurídico da União.
Discrição como método
Nos governos petistas, ganhou espaço principalmente na Casa Civil, onde atuou em temas jurídicos sensíveis. Colegas o descrevem como metódico e previsível, guiado por estudo técnico, avesso a improvisos e a qualquer decisão que gere ruído político. Entre 2019 e 2022, tornou-se referência informal para senadores em pautas jurídicas, construindo trânsito entre diferentes partidos. O presidente da CCJ, Davi Alcolumbre — responsável por comandar a sabatina — já afirmou publicamente que Messias sempre tratou o Senado “com respeito institucional e clareza técnica”.
À frente da Advocacia-Geral da União desde 2023, conduziu negociações complexas com estados, empresas e órgãos de controle, priorizando acordos e evitando conflitos prolongados. Em 2024, ao anunciar uma conciliação envolvendo entes do Norte, resumiu sua visão: “O litígio deve ser a última alternativa. A tarefa do Estado é buscar soluções que preservem direitos, recursos públicos e estabilidade institucional.”
Religião e política
Embora não seja ativista religioso, Messias manteve vínculos com a comunidade batista. Após sua indicação, o presidente da Convenção Batista de Pernambuco, pastor Marcílio Barros, divulgou nota dizendo que sua trajetória “reflete fé traduzida em serviço e responsabilidade”.
Dentro do governo, o nome é visto como aposta em pacificação. Ao anunciar a indicação, Lula afirmou que Messias reúne “preparo técnico, serenidade e compromisso com a democracia” — qualidades que, para o Planalto, podem contribuir para reduzir tensões no Supremo.
A oposição aguarda a sabatina para medir sua posição em temas sensíveis, como a judicialização da política e o papel de decisões monocráticas.
Com um perfil técnico, religioso moderado e articulação silenciosa, Messias chega ao Senado como candidato a ministro que promete diminuir o barulho num momento de desgaste institucional e disputa crescente em torno do Judiciário.
