Venezuela acusa EUA de pirataria após apreensão de petroleiro em águas internacionais

Reprodução Instagram (@nicolasmaduro)

O governo da Venezuela classificou como “roubo descarado” e ato de pirataria a apreensão de um petroleiro do país por forças militares dos Estados Unidos. A ação ocorreu na quarta-feira, em águas internacionais, e envolveu um navio que transportava aproximadamente 1,1 milhão de barris de petróleo, fato que provocou alta imediata no preço do produto no mercado global.

Em nota oficial, o governo de Nicolás Maduro afirmou que o episódio integra uma política deliberada de agressão e saque das riquezas energéticas venezuelanas. O texto também retomou o caso da Citgo, subsidiária da estatal PDVSA nos EUA, cuja venda foi autorizada pela Justiça norte-americana no início de dezembro. A empresa havia sido tomada por Washington em 2019, após a não aceitação da reeleição de Maduro.

Segundo o governo de Caracas, as ações recentes demonstram que os reais motivos do cerco internacional vão além das justificativas apresentadas pelos EUA.
“Não é a migração, não é o narcotráfico, não é a democracia, não são os direitos humanos. Sempre se tratou de nossas riquezas naturais, nosso petróleo, nossa energia”, afirma o comunicado do Palácio de Miraflores.

A vice-presidente Delcy Rodríguez também se manifestou, classificando a apreensão como “ilícito internacional” e afirmando que o país recorrerá a instâncias multilaterais para denunciar o episódio.

A operação foi confirmada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que declarou ter a intenção de manter o navio sob controle dos EUA. Um vídeo de 45 segundos circulou nas redes, mostrando helicópteros militares e agentes armados descendo sobre a embarcação.

Escalada de tensões e possível bloqueio naval

Para o analista geopolítico Ronaldo Carmona, pesquisador do Cebri, a apreensão representa um novo capítulo da pressão militar exercida por Washington. Ele avalia que o movimento pode sinalizar o início de um bloqueio naval destinado a sufocar economicamente o governo venezuelano.

“Após a zona de exclusão aérea estabelecida na semana anterior, essa ação contra o petroleiro indica um possível bloqueio naval visando a queda do governo de Caracas. É bastante grave para o Brasil que a ação militar americana esteja trazendo a guerra para uma região de paz como a América do Sul”, afirmou.

Cerco militar se intensifica

A ofensiva dos EUA contra a Venezuela tem se ampliado nos últimos anos, com interceptações e ataques a embarcações no Caribe sob o argumento oficial de combate ao narcotráfico — apesar de a Venezuela não ser produtora expressiva de cocaína nem abrigar grandes cartéis.

Durante a campanha de 2023, Trump chegou a afirmar que, em seu primeiro mandato, esteve “próximo de tomar todo o petróleo da Venezuela”, país que detém as maiores reservas comprovadas do mundo. Desde 2017, o país sofre sanções e embargo econômico impostos pelos EUA.

No início deste mês, a Casa Branca divulgou novas diretrizes de segurança nacional ressaltando o objetivo de manter “proeminência” na América Latina. Para especialistas, a pressão crescente contra Caracas integra uma estratégia para promover uma mudança de regime, especialmente diante das relações estreitas da Venezuela com China, Rússia e Irã, rivais estratégicos de Washington.

Fonte: Agencia Brasil