
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada na quarta-feira (09), continua repercutindo no meio político e econômico. Apesar de o líder americano alegar desequilíbrio comercial com o Brasil, os números mostram o contrário.
Durante os seis primeiros meses de 2025, o Brasil exportou cerca de US$ 20 bilhões aos Estados Unidos. No entanto, importou quase US$ 21,7 bilhões em produtos americanos. O resultado é um déficit de US$ 1,6 bilhão para o lado brasileiro. Desde 2009, a balança comercial entre os dois países tem se mantido favorável aos EUA.
Portanto, especialistas e membros do governo brasileiro afirmam que as justificativas econômicas apresentadas por Trump são infundadas e politicamente motivadas.
Governo brasileiro critica motivação política das tarifas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi enfático ao comentar o anúncio. Ele destacou que os EUA têm superávit histórico nas relações com o Brasil. “É uma tarifa que não se justifica sob nenhum ponto de vista, menos ainda do seu ponto de vista econômico. Os Estados Unidos tiveram um superávit junto ao Brasil – fora a América do Sul – junto ao Brasil, nos últimos 15 anos de mais de US$ 400 bilhões. É superávit. Então, quem poderia estar pensando em proteção era o Brasil. Esse tipo de retaliação, com finalidade política e ideológica, é contraproducente. Ele desrespeita os 200 anos de tradição diplomática entre os dois países, que se dão muito bem”.
Ainda segundo Haddad, a medida fere a boa relação diplomática construída ao longo de dois séculos entre os países. Para ele, o ato é uma retaliação de fundo político, que não encontra justificativa em dados econômicos.
Exportações brasileiras favorecem mais os EUA
De acordo com os dados de 2025, o Brasil exportou, principalmente, óleos brutos de petróleo, produtos semimanufaturados de ferro ou aço, além de café. Já as importações foram concentradas em produtos com maior valor agregado, como óleos refinados de petróleo, peças para turbojatos e turborreatores usados na aviação.
Esse desequilíbrio também foi apontado pelo professor Leonardo Trevisan, da ESPM. Para ele, a estrutura das trocas comerciais evidencia a vantagem norte-americana. “Nós estamos vendendo o produto como ele sai da terra, e ele é transformado em mercadoria nos Estados Unidos. Isso significa que o emprego e a renda da transformação desse produto ficam lá, e não aqui”.
Além disso, ao importar produtos industrializados e exportar matérias-primas, o Brasil vê os ganhos em tecnologia, renda e emprego ficarem nos Estados Unidos.
Medida pode afetar os dois lados da relação
Embora a tarifa tenha como alvo o Brasil, os impactos podem ser sentidos também pelos americanos. Especialistas alertam que uma guerra comercial entre os dois países tende a prejudicar ambos.
As novas tarifas devem afetar inflação, juros, empresas e empregos — tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Dessa forma, o atrito tende a desorganizar cadeias produtivas e gerar insegurança econômica.
Especialistas recomendam cautela e diplomacia
Para o economista Marcos Lisboa, sócio da Gibraltar Consultoria, o Brasil precisa agir com prudência. Ele acredita que o país deve aproveitar o momento para diversificar seus mercados e avançar nas negociações internacionais.
“A gente ficou quase que parado nas negociações internacionais, teve algum avanço com a comunidade europeia, mas enfim, foi algum avanço. Nós deveríamos mudar a abordagem da política comercial brasileira. Nós deveríamos inclusive aproveitar esse momento para nos integrarmos mais à comunidade europeia, aos países do leste asiático. Eu acho que o governo brasileiro deve reagir com muita cautela para não sofrer mais ainda. Retaliar com tarifas de importação pode prejudicar ainda mais a economia brasileira”, diz Marcos Lisboa.
Portanto, ao invés de adotar medidas que aumentem a tensão comercial, o Brasil deve priorizar o diálogo e buscar acordos com outros parceiros. Essa abordagem pode reduzir danos e ampliar oportunidades de inserção internacional.