A Bolívia está repleta de lítio, um metal essencial para baterias, mas quase todo o recurso permanece preso no subsolo. O presidente eleito Rodrigo Paz, que toma posse no sábado, promete finalmente colocar o país entre os principais exportadores de lítio para ajudar a aliviar a grave crise econômica. Sua equipe planeja, inicialmente, revisar contratos obscuros com empresas chinesas e russas, certificar as reservas e elaborar nova legislação. Mas, diante da saturação do mercado e das limitações logísticas, o país não tem tempo a perder, afirmam especialistas e autoridades que deixam o cargo.
Paz, um centrista que derrotou o rival conservador Jorge Quiroga na votação do segundo turno do mês passado, está sob pressão para resolver rapidamente a grave escassez de dólares e combustíveis e conter a inflação desenfreada que pôs fim a duas décadas de governo socialista. A promessa do novo governo de revisar os contratos de lítio com a China e a Rússia coincide com o plano de Paz de reparar as relações com os Estados Unidos.
Governos anteriores de esquerda na Bolívia tentaram repetidamente extrair lítio em larga escala das terras altas do país, principalmente por meio de uma mineradora estatal. Em jogo, está uma vasta extensão praticamente inexplorada do metal, trancada sob salares, que poderia ajudar a abastecer a crescente frota mundial de veículos elétricos.
“Começar do zero teria um custo enorme”, disse o atual presidente, Luis Arce, em entrevista. “Podemos perder o barco.”
A Bolívia possui o dobro dos recursos do vizinho Chile, mas eles ainda não são considerados comercialmente viáveis pelo Serviço Geológico dos EUA. Os depósitos suspensos em salmoura apresentam altos níveis de magnésio, o que encarece a produção de lítio, e o porto mais próximo no Chile fica a mais de 480 quilômetros de distância.
O governo Arce apostou em novas técnicas de extração direta para contornar problemas de pureza e encurtar o caminho para a produção. No ano passado, a estatal de lítio YLB firmou contratos com uma unidade da empresa chinesa Contemporary Amperex Technology e com a russa Uranium One para desenvolver projetos utilizando este método. Nenhuma delas está perto da produção comercial e ambas enfrentam o escrutínio no Congresso.
Um importante assessor econômico de Paz promete uma revisão. “Se houver algo positivo para retomar, será retomado, mas acreditamos que esses contratos de lítio foram firmados às escondidas das regiões e do país”, disse José Luis Lupo para a Bloomberg News.
“Não existe certificação para o lítio, nem legislação sobre o lítio. Há muito a ser feito antes disso, mas obviamente não agiremos de forma fundamentalista”, disse Lupo por telefone. “Vamos analisar o que essas empresas têm e ver o que pode ser aproveitado.”