Amil supera concorrentes e concentra o maior aumento dos planos e seguros de saúde privados

Pressão de custos, sinistralidade elevada e demanda por tratamentos complexos mantêm a operadora no topo das correções anuais

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O mercado de saúde suplementar entrou em 2025 em seu momento mais tenso desde o pós-pandemia. Custos médico-hospitalares elevados, aumento expressivo de internações, terapias de alto valor e o envelhecimento acelerado dos beneficiários criaram uma combinação que explodiu nos reajustes — e consolidou a Amil no topo pelo terceiro ano consecutivo.

A confirmação veio logo no início do ano e, embora esperada por consultores e gestores, provocou desconforto entre empresas e usuários: a Amil, que atende mais de 2,3 milhões de beneficiários, reajustou seus contratos coletivos em 15,75%. É o terceiro aumento significativo seguido, padrão que vem desde 2023.

Outras operadoras também apresentaram elevação, mas nenhuma na mesma intensidade. O retrato de 2025 ficou assim:

  • Amil – 2.361.353 beneficiários – 15,75%

  • Porto Seguro – 693.892 beneficiários – 15,08%

  • Bradesco Saúde – 2.663.929 beneficiários – 12,62%

  • Unimed Nacional – 1.223.054 beneficiários – 12,48%

  • SulAmérica Saúde – 2.140.650 beneficiários – 12,45%

  • Hapvida – 3.204.293 beneficiários – 11,61%

  • NotreDame Intermédica – 2.954.369 beneficiários – 10,76%

  • Unimed Porto Alegre – 504.762 beneficiários – 9,90%

  • Unimed Belo Horizonte – 1.341.570 beneficiários – 9,71%

  • Unimed Seguros – 839.796 beneficiários – 8,43%

A lista ganha ainda mais relevância porque mais de 80% dos brasileiros com plano de saúde estão inscritos em contratos coletivos, que não têm seus reajustes divulgados pela ANS. O índice oficial da agência se limita aos planos individuais, que respondem por menos de um quinto do mercado. Na prática, empresas e usuários se veem obrigados a aceitar aumentos sem clareza dos critérios que os sustentam.

Enquanto isso, a pressão sobre o setor continua muito acima da inflação. A VCMH, indicador que mede a variação dos custos médico-hospitalares, novamente ficou próxima de 20%, impulsionada pela combinação de internações mais longas, tratamentos cada vez mais complexos e medicamentos modernos — muitos deles importados a preços elevados.

A sinistralidade das carteiras corporativas também preocupa. Em diversos contratos empresariais, ela ultrapassa 90%. Quando os gastos ficam tão próximos da receita, os reajustes crescem, e a conta chega ao consumidor final.

O quadro é agravado pelo envelhecimento da população. Com beneficiários mais velhos nos planos, a frequência de uso aumenta. Internações, consultas e exames tornam-se mais regulares — um efeito direto da mudança demográfica brasileira.

No caso específico da Amil, consultores apontam que a operadora concentra carteiras de maior complexidade, atendidas por redes hospitalares com custos mais elevados. Além disso, parte dessas carteiras apresenta sinistralidade persistentemente alta, empurrando os índices para cima ano após ano. “Depois de três reajustes consecutivos acima de 15%, fica praticamente impossível segurar o orçamento”, disse o gestor de benefícios de uma multinacional, que conta já não conseguir justificar internamente os novos valores.

Na contramão, empresas verticalizadas — como Hapvida e NotreDame Intermédica — tiveram aumentos mais moderados, na casa de 10% a 11%. Com hospitais, laboratórios e clínicas próprios, elas conseguem controlar melhor o fluxo assistencial e reduzir custos. As Unimeds regionais também apresentaram índices mais suaves, entre 8% e 12%.

A ausência de transparência continua sendo um dos maiores problemas do setor. Sem dados claros da ANS sobre reajustes coletivos, cada negociação torna-se um processo isolado, dependente de relatórios internos de operadoras e consultorias.

O fato central permanece: a Amil lidera o ranking dos reajustes mais altos do país pelo terceiro ano seguido, reforçando uma tendência que já se desenhava e deve seguir estimulando debates ao longo de 2025. Com custos crescentes e uma população que envelhece rapidamente, a discussão sobre sustentabilidade e previsibilidade dos planos de saúde volta a ocupar o centro das preocupações de empresas, beneficiários e especialistas.