Após mais de duas décadas de negociações, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia pode finalmente avançar nesta semana. O governo brasileiro trabalha com a expectativa de que a assinatura ocorra durante a Cúpula do Mercosul, marcada para o próximo sábado (20), em Foz do Iguaçu. No entanto, a confirmação depende de decisões que ainda serão tomadas no bloco europeu.
Na última sexta-feira (12), uma autoridade da presidência do Conselho da União Europeia afirmou que a intenção é votar o acordo nos próximos dias, permitindo que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, assine o tratado no Brasil. O Conselho se reúne na quinta (18) e na sexta-feira (19), mas antes disso, na terça-feira (16), o Parlamento Europeu analisará um dos pontos mais sensíveis do acordo: as medidas de proteção ao agronegócio europeu.
Salvaguardas geram preocupação no Brasil
As chamadas salvaguardas, aprovadas recentemente pela Comissão Europeia, preveem a possibilidade de suspender temporariamente benefícios tarifários concedidos aos países do Mercosul. A medida pode ser aplicada caso a União Europeia avalie que suas cadeias produtivas agrícolas estejam sendo prejudicadas.
Essas regras surgiram como um gesto político para países que se opõem ao tratado, especialmente a França. No entanto, no Brasil, a proposta acendeu um alerta no setor agropecuário, que vê contradição entre a ideia de livre comércio e a possibilidade de restrições unilaterais.
Para a diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, as salvaguardas representam um risco concreto às exportações brasileiras. Segundo ela, o texto das medidas foi elaborado sem consulta prévia aos países do Mercosul, e o que será assinado, caso o acordo avance, é o resultado das negociações originais entre os blocos.
Importância estratégica para o agro brasileiro
O acordo UE-Mercosul é considerado estratégico para o Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. Atualmente, a União Europeia é o segundo maior destino das exportações do agronegócio brasileiro, atrás apenas da China e à frente dos Estados Unidos.
O avanço do tratado ocorre em um momento delicado para o comércio exterior do agro. Em 2025, as exportações brasileiras para os Estados Unidos sofreram forte queda após a imposição de tarifas pelo presidente Donald Trump. Embora a sobretaxa tenha sido retirada em novembro, uma parcela significativa das vendas ainda enfrenta restrições.
Contexto internacional favorece o acordo
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos também afetou a União Europeia, o que fortaleceu o interesse de alguns países europeus no acordo com o Mercosul. Alemanha e Espanha, por exemplo, veem o tratado como uma alternativa estratégica para ampliar relações comerciais, apesar da resistência liderada pela França.
Diante desse cenário, veículos da imprensa europeia avaliam que os franceses podem ter dificuldades para reunir apoio suficiente para barrar o acordo. Caso os entraves sejam superados, o tratado pode representar uma nova fase nas relações comerciais entre a América do Sul e a Europa, com impactos diretos para o agronegócio brasileiro.
Fonte: Globo