
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou um crescimento expressivo de 1,4% no primeiro trimestre de 2025, superando o desempenho dos Estados Unidos, da União Europeia e das nações do G7. Além disso, a taxa de desemprego caiu para 6,6%, atingindo um recorde positivo, enquanto a renda média do brasileiro alcançou R$ 3.057 mensais — o maior patamar da história. Apesar dos números animadores, o governo está em alerta: o desequilíbrio nas contas públicas ameaça minar os avanços econômicos.
Avanços impulsionados por gastos do governo
De acordo com especialistas, o aquecimento da economia está diretamente relacionado ao aumento dos gastos públicos, medida adotada para estimular a atividade econômica. Entretanto, há um risco crescente: a arrecadação não acompanha o ritmo das despesas. Como consequência, a sustentabilidade fiscal do país fica ameaçada.
Se o governo continuar gastando mais do que arrecada, os investidores podem começar a duvidar da capacidade do Brasil de honrar suas dívidas. Esse cenário gera desconfiança, eleva os juros — atualmente em 14,75%, a maior taxa em duas décadas — e pressiona a inflação.
Inflação e juros: obstáculos ao crescimento
O excesso de gastos provoca uma elevação na demanda, que, por sua vez, impulsiona os preços e eleva a inflação. Embora o Brasil tenha registrado em maio a menor inflação para o mês desde 2020, o país encerrou 2024 com índices acima do teto da meta.
A inflação alta penaliza principalmente os mais pobres, encarecendo produtos e serviços. Paralelamente, os juros elevados desestimulam investimentos e dificultam o acesso ao crédito, o que pode reduzir o dinamismo da economia nos próximos meses.
Governo corta orçamento e aumenta IOF
Em resposta aos desafios fiscais, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na semana passada um corte de R$ 31 bilhões no Orçamento de 2025. Deste total, R$ 7 bilhões incidem sobre emendas parlamentares e R$ 24 bilhões serão distribuídos entre os ministérios. A medida busca garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, que prevê déficit zero neste ano.
Além dos cortes, Haddad anunciou a elevação das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), com expectativa de arrecadar R$ 20 bilhões. No entanto, a decisão não foi bem recebida pelo Congresso.
Resistência no Congresso e busca por alternativas
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pediram ao governo que reconsidere o aumento do IOF. Em encontro com Haddad, defenderam alternativas estruturais, como o corte de gastos considerados desnecessários, para fortalecer a arrecadação de forma mais sustentável.
Haddad sinalizou concordância com a proposta, mas também alertou: sem o reforço de receita proporcionado pelo IOF, o governo pode enfrentar sérias dificuldades para manter a execução de políticas públicas até o fim de 2025.
O desafio: crescer sem perder o controle fiscal
O Brasil vive, assim, um paradoxo: comemora bons índices de crescimento, emprego e renda, mas precisa urgentemente equilibrar as contas públicas para evitar que esse ciclo positivo seja interrompido. O debate entre estímulo à economia e responsabilidade fiscal deve marcar as decisões do governo e do Congresso nos próximos meses.
Fonte: Globo