Brasil mantém embaixada esvaziada em Tel Aviv enquanto avalia romper acordos estratégicos; evangélicos e militares demonstram preocupação com os impactos

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Por Agenor Duque

As relações entre Brasil e Israel passam por forte tensão diplomática. Desde maio de 2024, a embaixada brasileira em Tel Aviv está sem embaixador, após declarações do presidente Lula sobre a ofensiva militar em Gaza. Agora, o governo avalia medidas mais severas, como o rompimento de acordos militares e restrições comerciais.

Um dos pontos mais críticos é a dependência da Força Aérea Brasileira de tecnologia israelense. Os caças Gripen, adquiridos da empresa sueca Saab, utilizam sensores, radares e sistemas de guerra eletrônica fornecidos por empresas israelenses. A suspensão da cooperação colocaria em risco a manutenção e operação de parte da frota aérea, sem alternativa viável no curto prazo.

A crise também preocupa o setor do turismo religioso. O Brasil é o segundo país que mais envia turistas a Israel, especialmente caravanas evangélicas. Um eventual rompimento diplomático pode afetar a assistência consular, dificultar a emissão de vistos e desestimular visitas a lugares sagrados como Jerusalém, Galileia e o Rio Jordão.

Além disso, tecnologias israelenses integram sistemas agrícolas no Brasil, como irrigação por gotejamento e sensores de monitoramento climático. A interrupção desses vínculos pode atrasar projetos científicos e comprometer setores estratégicos do agronegócio.

Movimentos sociais pressionam o governo por uma posição firme. Em junho, foi entregue ao Planalto um manifesto com mais de 300 mil assinaturas exigindo o fim das relações com Israel. Apesar disso, diplomatas e analistas advertem: uma ruptura formal pode trazer prejuízos duradouros à política externa e ao prestígio do Brasil em fóruns multilaterais.

O Itamaraty segue em silêncio. Já a embaixada de Israel no Brasil divulgou nota afirmando que “confia na continuidade dos laços históricos entre os dois países”.