Brasil vai acionar OMC contra tarifas de Trump e ameaça retaliação

Governo Lula articula reação multilateral às novas taxas impostas pelos Estados Unidos e promete apoio ao setor exportador brasileiro

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta quinta-feira (10) que o Brasil irá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a decisão do governo norte-americano de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A medida foi anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e atinge diversos países. Segundo Lula, se não houver acordo diplomático, o país adotará retaliações proporcionais com base na chamada Lei da Reciprocidade.

“Vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele”, afirmou Lula em entrevista à Record TV.

Articulação com outros países

O Brasil também pretende articular uma ação conjunta com outras nações afetadas pelas tarifas. A estratégia é criar uma frente dentro da OMC para pressionar os EUA a rever a decisão.

“Você pode encontrar um grupo de países que foram taxados pelos EUA. Tem toda uma tramitação que a gente pode fazer. Se nada disso der resultado, vamos ter que aplicar a reciprocidade”, acrescentou o presidente.

Lei da Reciprocidade e medidas internas

A lei citada por Lula foi sancionada em abril e permite ao Brasil suspender concessões comerciais e impor sanções em resposta a medidas unilaterais estrangeiras que prejudiquem sua competitividade. Na prática, ela dá respaldo legal para ações de retaliação em casos como este.

O governo também pretende criar um comitê com representantes do setor empresarial para analisar o impacto das tarifas e revisar a política comercial com os EUA. Lula rejeitou o termo “gabinete de crise”, mas disse que será um “gabinete para repensar a política comercial brasileira”.

Impacto e alternativas

Apesar das tarifas, Lula minimizou a dependência comercial do Brasil em relação aos Estados Unidos. “O comércio do Brasil com os EUA representa 1,7% do PIB. Não é como se não pudéssemos sobreviver sem eles”, destacou. O presidente ainda prometeu buscar novos mercados para os produtos brasileiros afetados pelas sanções.

Relações diplomáticas e críticas a Trump

Lula criticou a forma como Trump comunicou a decisão — por meio de carta publicada em seu site antes de chegar oficialmente ao governo brasileiro. “Achei que era um material apócrifo. Não é comum mandar correspondência oficial dessa forma”, reclamou.

O presidente também refutou acusações de desequilíbrio comercial entre os dois países e lembrou que os EUA têm superávits nas trocas com o Brasil há mais de 15 anos.

Bolsonaro no centro da polêmica

O presidente ainda sugeriu que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem responsabilidade política na penalização ao Brasil. Segundo ele, o filho de Bolsonaro teria influenciado Trump a adotar as sanções. Lula também reagiu à exigência de Trump para que Bolsonaro não seja julgado no Brasil. “Aqui o Judiciário é autônomo. Ele [Trump] pode fazer o que quiser nos EUA. No Brasil, quem manda somos nós brasileiros.”

 

Fonte: Agência Brasil