Pix vira alvo em disputa entre Trump, gigantes dos cartões e o Brasil

Pix registra maior volume de transações da história em apenas um dia – 1

O sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central, usado por mais de 160 milhões de brasileiros, entrou no centro de uma batalha geopolítica e econômica. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, incorporou críticas da Visa e da Mastercard contra o Pix em meio à escalada de tensões comerciais com o Brasil.

Pix na mira de Washington

Durante audiência no Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), entidades que representam empresas como Visa, Mastercard, Amazon e Apple alegaram que o Pix cria um “campo de jogo desigual”. O argumento é que, por ser operado e regulado pelo Banco Central, o sistema teria vantagens injustas frente às plataformas privadas de pagamento digital.

Sean Murphy, vice-presidente do Information Technology Industry Council, afirmou que o Pix deveria estar sujeito aos mesmos padrões de segurança, governança e supervisão que os concorrentes. Já a Câmara de Comércio dos EUA citou “falta de transparência” no modelo brasileiro.

Resposta do Brasil

Brasília rebateu as acusações. Para o diplomata Roberto Azevedo, o Pix não reduz a concorrência, mas amplia a inclusão financeira e fortalece o comércio eletrônico — inclusive beneficiando empresas americanas que atuam no país.

O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou que o sistema não gera lucro para a instituição e foi criado justamente para estimular concorrência no setor bancário. “Pelo contrário, o BC gasta todos os anos para manter o Pix”, afirmou.

Sucesso e ameaça aos cartões

Lançado em 2020, o Pix se consolidou como o método de pagamento preferido dos brasileiros. Em agosto de 2025, movimentou R$ 3 trilhões em transações, superando cartões de crédito e débito em popularidade. Além de gratuito para consumidores, o sistema oferece recursos como Pix Parcelado e Pix Automático, que ampliam seu alcance e pressionam o mercado de cartões.

Para especialistas, cada ponto percentual perdido para o Pix representa até US$ 400 milhões em taxas que deixam de ser cobradas pelas empresas de cartão. Ainda assim, os plásticos mantêm apelo por oferecer vantagens como milhas e acesso a salas VIP em aeroportos.

Disputa global por sistemas de pagamento

O embate entre Pix e empresas americanas reflete uma disputa maior. Na Índia, o sistema UPI, também patrocinado pelo Estado, já substituiu cartões em larga escala. Na Rússia, a plataforma Mir cresceu após a saída da Visa e da Mastercard em meio às sanções.

Segundo analistas, a ofensiva dos EUA contra o Brasil pode ter efeito contrário: fortalecer ainda mais a imagem do Pix como símbolo de soberania financeira e aumentar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem defendido o sistema como alternativa ao domínio dos cartões de crédito.

Em recente discurso, Lula ironizou as críticas:

“Qual é a preocupação delas? É que, se o Pix dominar o mundo, os cartões de crédito vão desaparecer.”

Fonte: Bloomberg Línea