O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, neste domingo (9), em Santa Marta, na Colômbia, o fortalecimento do diálogo entre as nações e criticou ações unilaterais que justificam o uso da força militar em territórios estrangeiros. O discurso foi feito durante a abertura da 4ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), que reúne líderes de 60 países.
Lula afirmou que a América Latina e o Caribe vivem um momento de tensão, marcado pelo ressurgimento de ameaças militares e tentativas de intervenção externa. “Ameaça de uso da força voltou a fazer parte do cotidiano da região. Velhas manobras são recicladas para justificar intervenções ilegais”, declarou o presidente, reforçando que “as democracias não combatem o crime violando o direito internacional”.
O encontro ocorre em meio à crescente preocupação de governos latino-americanos com a ofensiva dos Estados Unidos contra supostos traficantes de drogas em águas do Caribe e do Pacífico. Sob ordens do presidente Donald Trump, forças militares americanas têm realizado ataques a embarcações na região desde setembro, com dezenas de mortes registradas. O governo venezuelano, liderado por Nicolás Maduro, nega qualquer envolvimento com o narcotráfico e acusa Washington de buscar pretextos para uma intervenção.
Durante o discurso, Lula alertou para a fragmentação política do continente e defendeu o fortalecimento da integração regional. “Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz”, afirmou, lamentando que a América Latina esteja “mais voltada para fora do que para si própria”. O presidente apontou ainda o extremismo político, a desinformação e o crime organizado como ameaças à estabilidade democrática.
Ao tratar da segurança pública, o presidente enfatizou que o combate ao crime organizado deve ser conduzido dentro da lei e com cooperação internacional. “Não há solução mágica para a criminalidade. É preciso asfixiar o financiamento das organizações e enfrentar o tráfico de armas e de pessoas”, disse, destacando iniciativas como o comando tripartite na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia.
Lula também aproveitou o encontro para mencionar a COP30, que começa nesta segunda-feira (10) em Belém, e convidou os países da região a unirem esforços em torno da proteção ambiental. “Conservar as florestas é cuidar do futuro do planeta”, afirmou. Ele destacou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre como exemplo de proposta inovadora que valoriza a preservação.
O presidente defendeu, ainda, a aceleração da transição energética e a redução da dependência de combustíveis fósseis. “A América Latina é uma fonte segura e confiável de energia limpa, capaz de liderar esse processo global”, afirmou.
Encerrando sua fala, Lula destacou a necessidade de promover igualdade de gênero nas instituições internacionais e sugeriu que uma mulher latino-americana assuma o comando da Organização das Nações Unidas. “Apesar de representarem mais da metade da população mundial, as mulheres nunca ocuparam a função de secretária-geral da ONU. É hora de mudar isso.”
Após o evento, o presidente seguiu viagem diretamente para Belém, onde participará das atividades de abertura da COP30, reforçando a imagem do Brasil como articulador entre justiça social, diplomacia e sustentabilidade.